quinta-feira, 17 de março de 2016

POSICIONAMENTO SOCIEDADE BRASILEIRA ENDOCRINOLOGIA:

Comunicado On-line SBEM - 17 de março de 2016
O que pode ser chamada de "Medicina Moderna?"
Vivemos tempos difíceis na sociedade atual. A velocidade de recebimento de novas informações é instantânea. O volume de notícias e mensagens é gigantesco e chegam por toda parte: papel, televisão, páginas de busca na internet, redes sociais e aplicativos de celulares.
Se por um lado nos tornamos uma sociedade que, cada vez mais ganha peso e torna-se diabética, também é difícil saber o que é “saudável”. “Especialistas” proíbem aleatoriamente a ingestão de glúten e lactose, outras pessoas retiram da dieta todas as proteínas de origem animal, simultaneamente noticia-se que parte dos alimentos vendidos como “orgânicos” no nosso país estão contaminados com agrotóxicos.
Os pacientes chegam nos consultórios médicos sem rumo.
As queixas principais são repetitivas: ganho de peso, cansaço, indisposição, falta de energia, memória ruim. Parecia óbvia a explicação: o estilo de vida atual intenso, com alto nível de estresse, alimentação desiquilibrada e falta de atividade física regular. Mesmo assim, as avaliações endocrinológicas eram feitas para descartar doenças subclínicas que pudessem estar ocorrendo. Os exames normais indicavam o caminho a ser percorrido: mudar o estilo de vida!
Entretanto, hoje isto não é suficiente. Precisa haver uma solução “mágica”. Precisa haver um hormônio alterado. Nem que para isso, um “novo ponto de corte” para diagnóstico de doença seja estabelecido por um médico ou por um grupo de médicos, que tenham interesses em criar “doenças” em pacientes hígidos.
E um processo cada vez mais frequente tem ocorrido: a prescrição de hormônios por médicos que não são endocrinologistas! Como exemplo, os pacientes estão chegando nos nossos consultórios, recebendo levotiroxina (manipulada muitas vezes com triiodotironina), com um diagnóstico equivocado de hipotireoidismo subclínico, feito com TSH < 2,0 mU/L.
Outros têm o seu diagnóstico realizado a partir da análise inadequada de T3 total, T3 livre ou T3 reverso. Ou seja, pacientes eutiroideanos que recebem hormônio tiroideano indevidamente.
Em todo mundo, o uso de testosterona em homens eugonádicos tem aumentado muito. Este perigoso fenômeno vinha sendo identificado nos Estados Unidos da América nos últimos anos, mas agora também está evidente aqui no Brasil. Basta haver sintomas de queda de libido ou de cansaço, que existe algum médico prescritor de hormônios para dar a receita (mesmo sem avaliar adequadamente exames complementares) e dizer que faz uma “Medicina Moderna”. 
Paralelamente, o uso de testosterona em mulheres, que tem uma indicação ainda mais restrita, cresce absurdamente. Aqui, a motivação parece ser estética na maioria dos casos: diminuir gordura, aumentar musculatura, ficar com um corpo “escultural”. Porém, quase sempre, acompanhado por uma masculinização ou por diversos efeitos adversos.
Mas, sem dúvida, a “Fadiga Adrenal” tem sido uma das formas “modernas” de justificar o uso indevido de algum hormônio mais propagada nos últimos tempos. Infelizmente, com divulgação em mídia leiga em muitos casos. Parece que ninguém mais quer comer adequadamente, ninguém mais quer fazer atividade física regular, ninguém mais quer tentar diminuir o nível de estresse. Um grande número de pessoas quer apenas tomar uma pílula mágica (com um ou vários hormônios) e, com isso, conseguir, da noite para o dia, ficar saudável, com um corpo maravilhoso, com exames sensacionais. Mas, provavelmente, bem menos saudável!
É preciso deixar claro: não existe “pílula mágica”. E, neste sentido, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia tem feito o seu papel. A recente nota de esclarecimento sobre “Fadiga Adrenal”, publicada pela SBEM, alerta a população sobre o uso indevido de corticosteroides para retirar sinais e sintomas que não são causados pela falta de corticoide.
Que cada médico endocrinologista sócio da entidade utilize este material como uma forma de educação nos seus consultórios, clínicas e hospitais. É trabalho de todos levar informação adequada para os nossos pacientes.
Outros posicionamentos serão emitidos ao longo do ano, abordando práticas consideradas pouco ortodoxas à luz do conhecimento médico atual. Vivemos uma era da “Medicina baseada em Evidências” e não é concebível dar qualquer hormônio para pacientes saudáveis e com exames normais, simplesmente para melhorar algum sintoma oriundo de outra causa ou por questões estéticas.


    A SBEM tem missão e tem valores. O nosso compromisso é buscar cada um deles e cumpri-los com ética e determinação. Como Sociedade, com a participação ativa de cada um de nós.”

    Cordiais abraços

    Dr. Alexandre Hohl
    Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)

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